Os que questionam são sempre os mais perigosos.
Responder não é perigoso. Uma única pergunta pode ser mais explosiva do que mil
respostas.
O
Mundo de Sofia
Essa citação já diz bem o
que nós devemos esperar na leitura de “O Mundo de Sofia”, um livro didático
sobre filosofia – mas também sobre questionar, sobre filosofar no nosso
cotidiano. Infelizmente, comprei o ebook desse livro, logo, as citações não
poderão abarcar o número das páginas (o que é uma pena).
O livro narra a história –
primariamente – de Sofia, uma menina de quinze anos que passa a receber um
conteúdo diferente de qualquer outro pela caixa de correio de sua casa. A
primeira correspondência questiona Sofia sobre quem ela é e vai a inteirando
cada vez mais de si mesma, do mundo que a cerca e de como funcionam as pessoas,
as coisas, além de também falar de toda a história da filosofia de maneira
extremamente didática. Outras perguntas vão sendo feitas até que conheçamos o
seu professor, entendamos quem é Hilde e porquê ela é tão importante (além de
seu pai, claro).
Enquanto conhecemos os
passos da humanidade no campo filosófico, também ganhamos uma questão muito
curiosa: qual é a relação de Sofia e de Hilde. Alguns não gostam muito da
resposta, mas acredito eu que é algo primoroso principalmente por conta do
conteúdo explorado no livro – a resposta dessa questão é sublime.
Não pretendo dar qualquer
spoiler durante essa resenha, porém a
proposta didática do livro se complementa absolutamente bem, eu diria que até
perfeitamente, com o resultado da pergunta sobre a ligação de Hilde e Sofia,
sobre a própria história de Sofia. Pois a maior questão é sobre quem somos e
sobre o mundo em que vivemos, logo, o que o final apresenta é a resolução de
questões intrincadas que podem fazer nossa mente ir além – por sinal, por conta
dos resultados e respostas, elas ultrapassam o além.
“Penso, logo existo”;
Descartes ganha um todo e novo significado durante essa história e por conta de
seu desenvolvimento, o que torna brilhante, na minha concepção. O fato de
existir está muito inerente no texto que foi feito para adolescentes, mas é
muito melhor do que diversos livros adultos da atualidade que vemos por aí.
Ministrar história,
filosofia e uma riqueza inata de possibilidades é o que faz o Mundo de Sofia
ser tão surpreendente. A escrita do autor é muito didática e interessante,
porém não é um livro que deve ser lido com a mente fechada e nem com a ideia de
que não será – no final das contas – uma grande e divertida aula que pode levar
você, leitor, a loucura desse universo. Alguns momentos – ainda mais se você
conhece sobre o assunto – o livro pode se tornar maçante, o que é problemático
e cansativo, mas nada que não dê para superar e seja de fato um problema,
afinal, a leitura desse livro é para você saber sobre filosofia – como ele
mesmo diz dentro da história e na boca de um personagem: “esse pode ser muito
bem um livro didático sobre filosofia”.
Foi a segunda vez que li “O
Mundo de Sofia”, quando era mais jovem, eu não sabia metade do conteúdo
filosófico e nem literário para entender uma exuberante enxurrada de
referências e passagens (Dickens, Shakespeare, Goethe, etc), e tenho certeza
que dei umas puladas de página, hoje, mesmo já tendo estudado – até a fundo –
parte da história da filosofia grega, mantive-me firme (ainda que em alguns
momentos fosse um pouco desgastante por eu já saber previamente o conteúdo).
Em alguns pontos, eu tive
que discordar do autor na questão da própria filosofia como, por exemplo, citar
a fuga no universo mítico já em Platão, o que não foi assim, essa ruptura – em minha
concepção – ocorreu depois e não com o autor que fazia de Sócrates o seu
protagonista e tentava dar suas explicações filosóficas a partir de alegorias,
além disso, também não concordo que o mítico não esteja relacionado a filosofia,
pois era a partir desse universo que os homens já raciocinavam as causas da
natureza – mesmo que a resposta tivesse viés fantástico. No entanto, são
posicionamentos pessoais e não verdades absolutas, tanto da minha parte quanto –
acredito eu – do autor. Logo, não seria mais do que um debate filosófico na
minha mente e uma doce leitura recheada de conhecimento, inteligência e de um
maravilhoso desfecho. Esse livro, com certeza, é uma excelente indicação.
Um mítico indiano certa vez se expressou
assim: “Quando eu era, não era Deus. Agora sou Deus, e não mais sou”.
O
Mundo de Sofia
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