O
preço da fidelidade é a eterna vigilância
Millôr Fernandes
A epígrafe nada se
relaciona ao proposto aqui, mas, ao mesmo tempo, é a que melhor o representa. O
contexto dessa frase lançada por Millôr Fernandes não se relaciona ao texto ou
a fidelidade ao tema de um poema, redação ou narrativa, porém é a melhor forma
de começar a dizer sobre o assunto.
O que é fidelidade?
Fidelidade provém de fidelis, palavra
latina, que significa “aquele que tem ou assume um compromisso com algo ou
alguém”. Dessa forma, qual é o nosso compromisso como autores? Qual é o nosso
compromisso quando possuímos um tema e devemos nos comprometer a segui-lo?
Nosso maior compromisso,
acima dos outros, é vigiar a nós mesmos.
Exatamente o que você leu, vigiar! Justamente o que o senhor Fernandes disse.
Nós temos que conter nossos anseios, nossos pequenos deslizes e, acima de tudo,
focar no que importa para a trama, logo,
ao tema que ela está inserida.
Isso
não quer dizer que você não deve se preocupar com os mínimos detalhes,
principalmente, se eles farão diferença no final (pelo contrário, já explico!).
Você deve se dedicar ao texto como deseja que os outros se importem com ele,
sintam-no. Você só sente o que conhece ou reconhece, logo, o leitor só irá
fazê-lo se o texto for palpável e verossímil, seja na estrutura da trama, seja
nos personagens que cria: conheça-os como conhece a ti mesmo (ou não conhece,
porém deveria conhecer).
“Mas
eu estou confuso: é ou não é para detalhar?”. Detalhe sim, mas
para você. Você é o autor, você deve conhecer cada detalhe do que está
planejando e ir se infiltrando na narrativa como se fosse parte dela, porém o
leitor precisa sentir e não ser como você. Ele pode entrar e mergulhar no lago,
mas não precisa mergulhar tão profundamente: ninguém deve ir mais fundo do que você, autor. Vá e mergulhe dentro
do oceano que é a sua trama!
Mas você. Só você.
Mergulhe fundo, mergulhe de cabeça, porém faça sozinho. Depois do momento de
conhecer tudo (ou quase tudo) do enredo que está criando, dos personagens que
está desenvolvendo: você saberá o que é
importante ou não a ser colocado.
Você acha que é importante ao seu leitor saber
que Beth não jantou ontem? Sim ou não? A resposta é depende. Isso influencia na trama? Beth é importante? Beth fará
algo por não jantar? Beth está chateada com algo relevante e, por conta disso,
não jantou? Você sabe porque conhece o
seu universo e o tema em que ele se insere, você conhece o que é ou não
importante dentro dele, mas, antes de tudo, lembre-se: seu leitor é uma
criatura tão pensante quanto você.
Parece estúpido dizer
algo tão óbvio, mas, a verdade é: quantas vezes escrevemos coisas óbvias que o
leitor pode pensar sozinho e você não precisava ter gastado os seus lindos
dedos digitando? Não gaste palavras com
o que é desnecessário, não gaste palavras com coisas que o leitor pode induzir,
pois, muita das vezes, são nesses pequenos momentos que fugimos ao tema — por
simplesmente querer explicar demais do que não precisa. Então, a maior dica é pense no que é importante ou não ao tema
que trabalha e a trama que está construindo, exclua o resto do texto, mas nunca
de você mesmo.
Eu
uso o necessário. Somente o necessário...
O
extraordinário é demais!
Balu, Mogli
(Disney)
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